Isabela Valadeiro e Carlos Ferra

Isabela Valadeiro e Carlos Ferra

Entrevista por Patrícia Domingues

Fotografia por Frederico Martins

Direção criativa e styling Carol Roquette

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As palavras importam, mudam vidas, e quando nos faltam as nossas é na voz dos outros que muitas vezes as/nos encontramos. “Queres casar comigo?” – estas são deles e têm engolido as conversas sobre Isabela e Carlos, desde que “o casal do momento” anunciou o “sim” com data marcada. Numa conversa que parte de excertos de textos partilhados pela atriz nas suas redes sociais, celebramos a maior de todas: o amor.

“Só gosto das pessoas boas. Quero lá saber que sejam inteligentes, artistas, sexy, sei lá o quê. Se não são boas pessoas, não prestam” [Adília Lopes]


Isabela: Esta para mim é a frase que mais me tem acompanhado ao longo da vida. 


O que é ser uma boa pessoa? E o que é que viram de bom um no outro quando se conheceram? 


I: Ai, que bonito. Queres que comece, Carlos? 


Carlos: Podes começar. 


I: Para mim uma boa pessoa é uma pessoa que está preocupada em ser a melhor versão de si mesma, quer profissional quer pessoalmente. Que nunca tente inferiorizar o outro, ou superiorizar-se ao outro, mas sim dar o seu melhor, na perspetiva de ser melhor que ela própria a cada dia – e não ser melhor que ninguém, porque isso é não prestar. E em relação ao que vi de bom no Carlos, foi tudo aquilo que eu idealizei na vida desde sempre. Eu já contei esta história na rádio, eu tinha uma lista e quando conheci o Carlos ele não só fazia check em cada coisinha que eu tinha almejado e sonhado, como ainda veio acrescentar coisas muito relevantes e muito necessárias. Portanto, o Carlos é efetivamente um homem extraordinário e tem todas as qualidades que eu procurava num homem. 


Podes dizer algumas delas? 


I: Eu diria que o Carlos é extremamente honesto, focado, dinâmico, produtivo e almeja diversas coisas na vida dele, que eu própria também. Nós costumamos dizer que apanhámos o mesmo voo. Nós temos realmente objetivos em mente e juntos temos feito tudo para os conquistar. Juntos nós somos mesmo muito mais fortes, a verdade é esta. Nós somos uma grande equipa. 


C: Depois de ouvir o que a Isabela disse, eu acho que nós nos completamos muito. Uma pessoa boa tem de ser uma pessoa honesta; é uma pessoa que gosta de ajudar os outros, que tem um sentimento de belonging e que tem aquilo a que nós chamamos muito bom coração. E a Isabela realmente é essa pessoa e é uma pessoa com quem eu sonhei durante muito tempo e que nem fazia ideia que realmente existisse. E acho que quando a encontrei foi aquela coisa “uau”. Basicamente o que eu encontrei na Isabela foi tudo isso, essa honestidade, esse sentido de entreajuda, é muito preocupada com o outro, não só com o que ela faz, mas com o que a rodeia. E realmente é fantástico. Para mim, isto são todas as caraterísticas que uma pessoa boa tem. A Isabela reúne todas. 


Como é que vocês se conheceram?


I: Nós nunca vamos contar esta história na realidade, porque a história real é muito mais engraçada e única, e vai ser sempre um mistério. Nós não vamos revelar nunca este mistério, mas podemos dizer que foi no Lux. 


Já é um bom começo para adivinhar uma história. 


I: Foi Lux e foi numa festa pós-ModaLisboa. Passou-se a ModaLisboa e o Carlos estava cá porque veio desfilar e eu fui lá celebrar. Fomos apresentados pelo Luís Carvalho. 


C: O Luís Carvalho é o padrinho. 


“Tu estás em mim como eu estive no berço, como a árvore sob a sua crosta, como o navio no fundo do mar” [Mário Cesariny]. Quando publicaste este poema, falavas de saudade. Vocês neste momento têm uma relação à distância. Como é que lidam com a saudade? 


C: Eu já tenho este sentimento de saudade, já vivo com esse sentimento, porque há 12/13 anos que não vivo em Portugal. Este sentimento de saudade para com a minha família, agora com a Isabela, é algo com que eu aprendi a lidar. No entanto, nós mantemo-nos em contacto durante praticamente o dia todo, tentamos falar o máximo possível, tentamos estar o máximo possível na vida um do outro para que não exista esse sentimento de saudade tão intenso. Mas é um sentimento com que é difícil lidar, e é por isso que eu passo a vida entre aeroportos – já estou a voltar para Portugal depois de ter estado aí há três dias! É ir tentando mantermo-nos presentes na vida um do outro. É obviamente nostálgico, mas é algo que nos faz appreciate os momentos que temos juntos.  


I: Eu acho fantástico que desde o primeiro dia que o Carlos tem vindo praticamente todos os fins de -semana a Portugal. Se isto não é amor, não sei. [risos]


“Eu é um pseudónimo de nós e nós o pseudónimo disto tudo” [Manuel Resende]. Vocês estão prestes a assumir um grande “nós”. Como é que descrevem o vosso “nós” e porque é que foi importante oficializá-lo desta forma? 


I: Eu nunca tinha sentido nada assim na minha vida. Foi tudo muito intenso desde o primeiro minuto e efetivamente há que perceber que há pessoas que não atravessam uma cidade só para nos ver. Este homem vem de longe todos os fins de semana para me ver. E eu enfim, faço os esforços possíveis também para ir ter com ele. E eu acho que isso já diz muito sobre a nossa relação e aquilo que representamos um para o outro. E estamos a fazer os esforços possíveis para estarmos um com o outro a full time, e obviamente que é essa a nossa vontade, portanto sim teríamos sempre de oficializar, teríamos sempre de arranjar uma forma de ficar juntos, neste caso para sempre. 


Como é que vocês descrevem o vosso “nós”? Como é que é a vossa dinâmica e como é que descrevem a vossa relação? 


C: Na minha relação com a Isabela, nós completamo-nos muito. A Isabela, mesmo no campo profissional, ela tem uma grande paixão pela moda; eu tenho a mesma paixão pelo cinema. É quase uma simbiose perfeita. O “nós” é uma coisa que acontece de uma forma bastante natural e quando assim é as coisas são fáceis. Nós não temos de pensar muito em como fazer o “nós” e ser um “eu” e “tu”, porque nos encontramos sem querer. Foi assim que começou a nossa relação e é da forma que temos vivido a relação até agora. E acredito que iremos viver desta forma para sempre. 


I: Queria acrescentar que temos um grande entendimento desde o primeiro minuto. E depois acho que tem a ver com um background, com origens, e eu nunca na minha vida imaginei casar com um alentejano. Nós temos as mesmas dinâmicas familiares, ele tem uma irmã mais nova, eu tenho um irmão mais velho, os nossos pais continuam juntos, que hoje em dia não é tão comum quanto isso. Temos muita coisa em comum: viemos do Alentejo, fomos moldados por aquela realidade alentejana – o Carlos é de uma cidade e eu sou da aldeia –, sempre tivemos tendência a expandir-nos, a procurar aquilo que realmente pretendemos, a concretizar-nos, a sermos assertivos nas nossas escolhas, a ser determinados. E eu acho que isto são caraterísticas que estão muito presentes quer num quer noutro e por isso é que existe esta identificação mútua e este entendimento. 


Eu ia falar sobre isso e tenho uma frase do Afonso Cruz, que também partilhaste: “A única coisa que importa saber é que vivemos numa tapeçaria e que, por mais longe que estejamos uns dos outros, somos a mesma história, fazemos parte do mesmo tapete.” Vocês sentem que têm esse tapete em comum? Têm histórias que se cruzam?


I: Queres dizer, Carlos? Ou queres que eu diga? Eu já tenho aqui uma dele. 


C: Diz! Conta tu. 


I: Para quem gosta de astrologia, isto é porreiro. Nós somos os dois Virgem e temos o mesmo amor, somos muito apaixonados pela nossa origem. Também acho que estou a empurrar um bocadinho o Carlos para reviver aquilo que é a origem dele, ele já estava um bocado desligado, uma vez que já está fora há 12 anos de Portugal. Ele estava muito desligadão, eu própria também me estou a aproximar, se bem que eu nunca me desliguei do Alentejo porque para mim o Alentejo é tudo, é tudo. É a base da minha existência. Mas agora eu tenho revisitado ainda mais o Alentejo e tenho empurrado o Carlos nesse sentido, para viver o Alentejo integralmente. E eu acho que é por aí. São as dinâmicas familiares muito semelhantes, é a questão do signo, é a complementaridade que existe entre nós e é muito natural. Eu conheci a família dele e fiquei um bocado estupefacta, porque era tudo muito semelhante. As relações, pai e mãe, é tudo muito semelhante. Entre outras coisas. As avós, a ligação às avós. O facto de as mulheres terem um peso muito grande nas nossas famílias é mútuo. Enfim, são várias semelhanças. 


C: Acho que temos muitas semelhanças ao nível de base, e também temos muitas semelhanças ao nível do nosso projeto futuro. Tanto uma coisa como a outra fazem com que nos sintamos no mesmo espaço, a voar o mesmo voo de alguma forma. Isso é mesmo muito importante. 


Neste momento há um holofote grande apontado para vocês. Uma vez publicaste um texto que dizia: “Mexericos que revestem os próprios sentimentos com roupas requintadas e fazem esquecer os desejos de grandes emoções” [Dietrich Schwanitz] – e comentaste: “O melhor é desconhecê-lo todo.” Interessa-vos, não só ao nível da vossa relação, mas também ao nível individual, saber o que os outros pensam sobre vocês? É uma coisa que na vossa carreira e vida teve um peso? 


I: Isto é uma coisa que também temos em comum, que é o nosso calcanhar de Aquiles. Eu felizmente estou quase curada, estou quase a ter alta. [risos] É a questão do julgamento alheio, ou da aprovação ou desaprovação, que isto bate sempre numa questão que está latente, é transcendente a todos e que cola com essa da tapeçaria. Nós temos as mesmas inquietações e esta coisa de nos sentimos integrados, de nos sentirmos aprovados, é uma questão que está latente em todos nós. Bate também em algumas inseguranças que possamos ter. E por isso essa questão dos outros sempre nos palpitou um bocado. Hoje em dia, eu aprecio imenso quem fala de mim por uma questão de reconhecimento, ou porque gosta de mim, ou porque os jornalistas têm de fazer notícias – e ainda bem que o fazem porque é o trabalho deles –, mas enfim, nós realmente não temos nada a esconder. Tudo o que seja mexerico efetivamente, ou seja, falar da vida do outro só porque sim, tenho mais que fazer, tenho a minha vidinha para gerir, não vou fazer parte desses grupos. Se quiserem falar da minha vida, estejam à vontade, eu não tenho é que saber o que é mau, entra-me a 100 e sai-me a 200. Porque pode ser uma condicionante e eu tenho é de viver a minha vida, e estar focada nos meus objetivos e naquilo que é a minha felicidade suprema, na minha realização pessoal e etc. E é isto. Se falarem da nossa relação, falem. A opinião do outro pertencerá sempre ao outro. 


Sobre calcanhares de Aquiles – “Somos indivíduos soltos como areia seca. Pessoas são pessoas, para cada calcanhar um Aquiles” [André Tecedeiro]. A tua profissão é uma profissão que lida muito com a falha e com o encontrar alguma beleza e verdade através da falha. Sentes isso no teu trabalho? É algo que tens aprendido ou que ainda queres aprender?  


I: Houve um tempo em que não me permitia falhar, mas depois acabava por falhar ainda mais. Inclusive no Alta Definição – é muito engraçado ver o quanto eu mudei desde há não sei quantos anos para cá. Eu era extremamente preocupada com essa questão da aprovação, com essa questão de não poder falhar. Hoje em dia, estou no lado oposto disso. Preocupo-me obviamente em fazer o meu melhor, mas é com a falha que eu também aprendo. Não tenciono falhar, ou seja, tenciono preparar-me o mais possível, ter uma disciplina, ser regrada e ter uma rotina, para que a falha seja cada vez menor, e ser também maior o sucesso ou o êxito da cena ou do projeto em que me envolvo. Mas falhar faz parte do sucesso. O ideal aqui é nós falharmos diferente, ou seja, não falharmos e cometermos sempre o mesmo erro, porque isso já é tonto. O ideal é mesmo falhar diferente e a falha fará sempre parte, sobretudo a gravar novelas e a fazer televisão. É um processo tão rápido e é preciso estar com uma atenção extrema, que a falha poderá acontecer a qualquer momento – e acontece. Agora a questão é: como é que nós lidamos com a falha? Aqui é que está a real conquista. É lidar com a falha da melhor maneira possível, introduzi-la na disciplina e trabalhar, trabalhar, trabalhar. E que isso nos sirva de exemplo para nos superarmos todos os dias. 


Carlos, tens algum calcanhar de Aquiles?


C: Essa questão da aprovação e do peso da avaliação que as pessoas fazem, para mim é mais... Eu diria que tenho um núcleo de pessoas que a aprovação ou não delas me faz sentir a abanar mais, em termos do caminho que sigo. No entanto, é um calcanhar de Aquiles mas é algo que vem do facto de, tanto eu como a Isabela, sermos um pouco perfeccionistas e querermos fazer melhor da melhor forma. Em relação à questão da falha, tanto na profissão da Isabela como na minha e mesmo na vida pessoal, eu acho que a falha é uma coisa bonita. Eu acho que ver a falha e conseguir entender a falha é uma virtude muito forte, e acho que os melhores profissionais têm sempre, ou quase sempre, essa virtude. E entender onde está a falha, ver a beleza da falha, aprender com a falha e evoluir. Também concordo com a Isabela que, quando se falha na mesma coisa constantemente, já se torna uma coisa um bocadinho mais negativa, mas falhar em coisas diferentes, e tentar coisas diferentes, idealmente arriscar, é muito importante em moda, no acting, no cinema, enquanto artistas. É muito importante termos essa caraterística de tentar, falhar, mas sempre a voltar com alguma aprendizagem em relação às falhas.

Isabela Valadeiro e Carlos Ferra

Camisa Lanvin na Sheet-1

Soutien e calças Zara

Isabela Valadeiro e Carlos Ferra

Camisa Maison Margiela na Sheet-1

Estavas a falar em arriscar, em ir. “Não faças de ti um sonho a realizar. Vai” [Cecília Meireles] O que é que vos tem feito ir? O que é que vocês sentem que é o vosso propósito ao nível profissional e pessoal? 


C: Eu acho que o que nos faz ir constantemente é tentar sermos a melhor versão de nos próprios. Tentar transcendermo-nos, termos oportunidades de nos expormos a situações, a trabalhos, a coisas que nos fazem evoluir e crescer como pessoas e profissionais. Isso é o que me faz, pelo menos a mim e acho que à Isabela também, arriscar. E neste momento a viver fora e a trabalhar aqui em Londres, sinto que estou constantemente a sair dessa zona de conforto. A trabalhar para me transcender e me tornar melhor. Acho que é isso que nos faz ir: não ter medo dessas dificuldades é o mais importante. 


I: Eu acho também que é, no meu caso e acho que no caso do Carlos também, a busca pela realização pessoal e profissional. Acho que é essencial sentirmo-nos realizados e ir procurar isso. A realização bate sempre com a felicidade, e no meu caso em particular baterá sempre. Podemos preferir uma coisa confortável e estanque, mas não é o caso. No meu caso, há sempre uma coisa de ir e procurar o que for necessário para se atingir o que se quer. Não de uma forma desmedida, mas sim de forma ponderada, sensata e em conformidade com aquilo que são os nossos valores e aquilo que nós procuramos. 


Um bocado procurar o desconforto e a falha. 


I: É preciso sair da zona de conforto para se conquistar o que se quer conquistar. Porque na zona de conforto, no confortável do Alentejo, como é que eu seria atriz? Quer dizer, podia ser, mas seria uma coisa mais local. Como é que eu me expandia? Tive de sair do Alentejo e vir para Lisboa. Mas agora Lisboa é confortável. Se calhar terei que ir para outro sítio procurar o desconfortável para depois ficar confortável novamente. 


Têm algum farol que vos guie o caminho? Algum lema ou espinha dorsal, que no meio do desconforto e das diferentes direções da vida, vos afunile a escolha? Algum princípio, algum propósito? 


I: Há uma frase fantástica “Enquanto não alcances, não descanses”, chama-se Começar e é do Miguel Torga. É uma que está em letras garrafais ao pé da rua cor-de-rosa. Se há caraterística da qual me posso orgulhar muito é a minha determinação e a minha resiliência, porque amo o que faço e porque já tenho contacto com a felicidade e não quero menos que isto. 


“É um dos grandes segredos da vida: curar a alma por meio dos sentidos” [Oscar Wilde] O que é que vocês gostam de fazer para sentir, nos vossos tempos livres? Eu li que tocas trompete. Sobre o Carlos, não descobri nada. 


C: Fazer um roteiro de experiências gastronómicas, que é uma coisa de que gostamos bastante. Eu acabo por ter o ténis. É daquelas coisas que eu sinceramente me vejo a deixar de trabalhar em ténis, mas não me vejo a deixar de jogar ténis e usufruir do desporto dessa forma. É uma das formas mais interessantes de sentir. Temos a questão da arte, da música, da literatura, que acho que a Isabela pode falar mais sobre isso.


Vocês partilham os mesmos gostos? 


I: Por acaso num primeiro impacto não. O Carlos adora tecno e house, é aquela vibe Lux. E eu pessoalmente não. Eu sou muito eclética, oiço um bocadinho de tudo, mas hoje em dia também estou muito mais convertida a alguns gostos musicais do Carlos. C: O tecno e o house podem ser ecléticos. 


I: Sim, eclético é alguém que gosta de variedade. Hoje em dia já consigo ouvir! Mas enfim, gosto um bocadinho de tudo. Das coisas que estou sempre a ouvir, um bocadinho saudosista, são os cantares alentejanos. Eu adoro! É parte de mim. Mas temos muita coisa em comum: Bossa Nova, música popular brasileira, tangos, boleros, tudo o que é espanhol eu amo – e o Carlos já se está a converter. Agora andamos numa cena de festivais de cinema, que a mim me interessa muito, e o Carlos partilha deste gosto. Gostamos muito de estar a par das novidades no cinema. 


Qual foi a última coisa que viste que te deixou arrebatada, surpreendida? 


I: Fomos ao San Sebastian Film Festival e vimos um documentário – foi um trabalho de investigação, mas em animação. O Carlos vai saber o nome dos animadores, que ele é homem para isso. E era sobre Bossa Nova precisamente. Fizeram um trabalho de investigação bestial e desenharam, aquilo era animação, e estava extraordinário o trabalho deles, com as vozes do Tom Jobim, do Caetano Veloso, deles todos, a partilharem o seu testemunho. O filme chama-se They Shot the Piano Player e o piano player é o player do Vinícius de Moraes. Acaba por andar tudo ali à volta do piano player, mas com o contacto com a Bossa Nova. 


C: Acabámos por ver esse filme logo após termos estado no concerto do Caetano Veloso, depois de lançar a música com a Carminho, então foi ainda mais interessante ver esse filme. No todo, os festivais de cinema, as talks a que fomos, deixam-nos a conhecer muito mais e arrebatados pela genialidade de como o cinema é feito, e a construção dos filmes. Realmente os festivais de cinema são top of the list. 

I: Eu acho que de forma geral nós somos um casal interessado, que adora ver, saber, aprender. Outra caraterística que nós temos em comum e que prezamos. Realmente temos sede de saber, de conhecer, de viajar. 


“Palavras não existem, fora da nossa voz as palavras não assistem, palavras somos nós” [Mário Viegas]. Estamos a ter esta conversa a partir de textos que tu partilhaste. Que importância tem a escrita, as palavras, os livros, na tua vida? 


I: Têm uma importância enormíssima. Eu trabalho com palavras diariamente e a maneira como nós as expressamos é fundamental. E aquilo que vem por trás das palavras é fundamental também. As palavras representam tudo na minha vida e é incrível o poder delas. Nós podemos estar a dizer coisas realmente encantadoras, poéticas mesmo, ou podemos estar a magoar o outro. Ou podemos estar a dizer o contrário, coisas que aparentemente são muito severas de dizer, e depois a intenção é boa e é com verdade, ou com a intenção de ajudar o outro. Acho que as palavras são poderosas. E, mais uma vez, eu acho que todos estes textos, tudo aquilo que eu fui partilhando, têm um resultado em comum, que é esta questão da tapeçaria, de nós sermos todos parte da mesma coisa. E acho que as palavras são isso mesmo, são representativas disso mesmo. Temos o poder de as usar e também de as interpretar. Pode ser em conformidade com aquilo que é a intenção do outro ou não, vai sempre depender daquilo que é a nossa vivência pessoal e aquilo que vai por dentro de nós. É sempre sobre “eu” na relação com o outro, ou o outro na relação comigo. E as palavras são realmente poderosíssimas nesse sentido. 


“Stay kind, it makes you beautiful” [Najwa Zebian] Vocês trabalham em profissões com uma esfera pública, numa indústria que tem um ambiente tantas vezes pesado e efervescente – as pessoas sobem e descem de forma muito rápida. É possível manteres-te kind nesta indústria? 


C: Eu acho que conseguires realmente stay kind numa indústria como a da moda, cinema ou outras que realmente são ingratas, parte da tua essência. Essa mudança de conceito do que é o ambiente nesse tipo de meios parte de cada um de nós. Da minha parte a única forma de realmente marcar a diferença é stay kind e ser kind para as pessoas que trabalham comigo, para os outros manequins, para as pessoas que me rodeiam. É a única forma de stay true to myself. 


I: Eu acho que é isso. É fundamental ser-se genuíno e fiel a nós mesmos. E eu estou cada vez mais próxima disso. E acho que é sempre preferível isso... Ah e efetivamente pode-se pensar que o stay kind pode confundir-se com stay dumb. Não é isso, não é sobre ser-se submisso, não é sobre não se prestar atenção às coisas, nem é deixar que se faça tudo. É sim ser-se realmente generoso, mas também não permitir tudo e qualquer coisa. Porque às vezes essa permissão, o abrir precedentes, a generosidade, pode confundir-se com de repente pode-se tudo. E não é sobre isso. É sobre ser-se generoso com os colegas e a melhor experiência que eu tenho, ou seja, quando eu fui melhor atriz, quando eu sou melhor atriz, é efetivamente num plateau onde as pessoas são generosas, onde a contracena é generosa e quer realmente partilhar, jogar e brincar (jouer em francês) e representar comigo, está ali para dar o seu melhor, e isso, para mim, já é a generosidade; ser-se realmente profissional, estar ali para o outro, doar-se em cena é para mim o suprassumo da generosidade. E depois é efetivamente ser-se o melhor que se pode para toda a equipa, respeitando sempre o espaço e o trabalho do outro. A generosidade é isto. 


C: Entreajuda também. 


I: Sim. Mas não deixar que se confunda. 


Tenho aqui uma frase, que vais ter de adivinhar de quem é e que diz assim: “O importante lá, e já agora na vida, é entre outras coisas a verdade, e se puder ser intenso, vibrante, hilário e ensinador, tanto melhor.” 


I: Fui eu que escrevi isso. Ai, que poeta! [risos]


Na verdade é tudo aquilo que acabaste de dizer. No sentido em que estas profissões, atriz, modelo, também trabalhas como influencer, tudo isso envolve muitas máscaras sociais que são necessárias não só neste meio, como em todos. E a minha pergunta é: qual dessas máscaras é a tua? 


I: Já passei por várias fases na minha vida e quando estamos a crescer também tendemos a proteger-nos e achamos que precisamos dessa profissão. E andamos muitas vezes com esta coisa do ego, para nos defendermos que alguma coisa que possa eventualmente representar um risco para nós. Estamos sempre com a armadura do “sou muita forte”. Eu pessoalmente sou bastante reativa, no sentido em que ou fazia uma piada, sei lá. Era bem mais reativa, hoje em dia estou muito mais ponderada, muito mais sensata. Não comento muito isto ainda, porque ainda não tinha chegado o momento certo, mas eu faço terapia há cerca de dois anos e realmente foi a coisa mais revolucionária da minha vida. Não só porque a minha terapeuta é, para mim, a coisa mais extraordinária do mundo, mas também porque descobri coisas sobre mim muito impactantes e depois tomei a decisão – porque tu depois escolhes, ou queres ficar na mesma ou mudas. Bate com aquele assunto do falhar. Queres tanto não falhar, mas vais falhar na mesma. Ficas ali, queres tanto estar desconfortável, não sais para fora de pé, já estás a falhar. Mais vale arriscar. 

Sobre as máscaras, estou cada vez mais livre delas, estou cada vez mais fiel a mim própria. E estou cada vez mais orgulhosa disso mesmo, de não ter de sorrir só porque tenho de sorrir. Claro que vou ser sempre simpática, eu sou uma pessoa simpática, modéstia à parte. Mas de repente não preciso de estar a fingir que estou a agradar. Saber dizer que não é fundamental. Para ouvir um “sim” é preciso saber dizer que não. E saber ouvir um não, já ouvi muitos na minha vida. Acho importantes irmo-nos libertando delas, é dos maiores desafios da humanidade. 


“Que inventemos desculpas para uma mão esmagada com dez beijos nos dedos e sejamos felizes.” [Cláudia R. Sampaio] O que é para vocês a ideia de felicidade, neste momento?



I: Esse foi um texto que eu partilhei e curiosamente fui a um programa da manhã com o Carlos Areia e o José Raposo, e eles abraçaram-se a mim e deram-me muitos beijos, e eu fiquei “que giro, isto sabe mesmo bem”. É isto! Partilhar carinhos também é difícil. Entregarmo-nos ao outro e sermos mais afetuosos, também exige que quebremos algumas barreiras para nos conectamos ao outro, e aqueles dois desde o dia 1 que sempre me ofereceram muita generosidade e muito carinho. E a felicidade é isso mesmo: termos a capacidade de estar disponíveis e de receber também o amor do outro. Às vezes também é um bocado desafiante, poderá bater com questões de merecimento ou não merecimento...
A felicidade para mim é isso. É a partilha do amor e é também a leveza da vida, e realização pessoal com leveza, e o menor número de máscaras possível.



C: Eu partilho da opinião da Isabela. Acho que aquilo que ela disse... Tirou-me as palavras. É exatamente isso que representa felicidade para mim. 


“O que é preciso é termos confiança, se fizermos de Maio a nossa lança isto vai, meus amigos, isto vai” [Ary dos Santos] O que é que perspetivam de futuro? O que gostavam de fazer ao nível profissional ou pessoal? 


C: Eu realmente ao nível futuro já trabalho em Management, mas mais na parte do Ténis. Trabalho com um clube e com a Federação Britânica de Ténis numa parte mais de Management, e trabalho com crianças. É uma coisa que me faz muito feliz e que eu gostaria de desenvolver não só no ténis, mas talvez com moda, com acting. Talvez esteja aí um projeto a aparecer em relação a isso. E vejo-me no futuro a ajudar e a utilizar o knowledge que adquiri nos últimos 12 anos a trabalhar com marcas internacionais, e a beber toda esta informação e cultura. Gostava de fazer coisas diferentes, diferentes porque convergem com a forma como se fazem em Portugal. Há várias coisas para serem trabalhadas e várias ideias para serem levadas para Portugal. Ao nível profissional, é onde me vejo no futuro. Se isso me levar até perto da Isabela, melhor ainda. 


I: Se isso?! [risos] Como é óbvio nós temos aqui um estratagema montado, uma ideia de negócio, uma ideia minha no sentido em que quero tê-lo perto de mim o mais perto possível. Estamos a lidar muito bem com a relação à distância, mas isto não é o ideal, o ideal é estarmos perto um do outro e partilharmos a vida. Há algumas ideias de futuro. Eu vejo-me a fazer cinema e a fazer uma carreira internacional, sem dúvida. Vejo-me também no teatro e nos palcos. Fui muito feliz nove meses agora numa peça que fiz com o grande José Raposo e o restante elenco maravilhoso. E quero muito voltar aos palcos, quero muito pisar o palco Dona Maria com uma peça extraordinária. Gosto muito do trabalho do Pedro Penim e de outros encenadores, por isso, gostaria muito de ingressar por aí. E efetivamente o cinema internacional, não posso passar sem lá ir. E o meu futuro passará também por um negócio meu, obviamente ligado ao Alentejo, nem podia ser de outra forma. Não mudarei o mundo, mas se eu puder mudar a realidade alentejana, ou a mentalidade cultural do interior do País, assim farei.  


Descentralizar. 


I: Sim. Criar uma facilidade no acesso à cultura e fazer realmente a diferença. Contribuir para aquele que é o sítio da minha vida e as pessoas da minha vida, que é a minha família. 


“No fim, o mundo não importa nada. Só importa o que fica nos nossos corações.” [Sándor Márai] É isso que sentem no momento atual? 


I: Era preciso termos uma grande capacidade de abstração e isolarmo-nos na nossa bolha. Efetivamente o mundo importa, mas importaria ainda mais se tivéssemos uma capacidade maior de lidar com algumas situações. E seria extraordinário se tivéssemos mais compaixão e empatia uns pelos outros. E por nós mesmos! Se trabalhássemos mais para dentro, isso seria espetacular. Porque efetivamente a vida acaba-se. Somos parte de uma matéria que finda, vamos todos bater as botas. Enquanto cá andamos, é porreiro aproveitar a vida, e viver intensamente e com leveza. É impormo-nos na vida, no sentido de saber o que se quer, que também é difícil, mas quando se sabe, procurar conquistar com leveza e com a complementaridade que é possível entre nós humanos. Nós não aproveitamos isto, estamos sempre eventualmente a sugar-nos e podíamos complementar-nos. Porque não há concorrência, essa coisa não existe, nós somos únicos – não há outra Patrícia Domingues, não há outro Carlos Ferra, não há outra Isabela Valadeiro. Pode haver gente parecida, gente com valores parecidos, mas não há igual. E isso já por si é um grande tesouro e podíamos fazer-nos valer disto. Isto é muito difícil, atenção. Isto é complexo. 


C: Be kind to yourself e to others. 

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Isabela

Camisola Lacoste

Brincos Virzi


Carlos

Calças The Row na Sheet-1

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Conjunto Issey Miyake na Sheet-1

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Carlos

Regata Zara

Calça Gant


Isabela

Conjunto Issey Miyake na Sheet-1

Joias Virzi

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Carlos

Regata Zara

Calça Gant


Isabela

Conjunto Issey Miyake na Sheet-1

Joias Virzi

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Calções Luis Carvalho

Brincos Virzi

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Isabela

Camisola Lacoste

Brincos Virzi


Carlos

Calças The Row na Sheet-1

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Calças The Row na Sheet-1

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Camisa Lanvin na Sheet-1

Soutien e calças Zara

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Isabela

Soutien e calças Zara

Brincos Virzi


Carlos

Colete Maison Margiela na Sheet-1

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Isabela

Soutien e calças Zara

Brincos Virzi


Carlos

Colete Maison Margiela na Sheet-1

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Tank e calças Zara

Sapatos Marni

Brincos Virzi

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Camisa Maison Margiela na Sheet-1

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Carlos

Calças Luis Carvalho


Isabela

Soutien Zara

Cardigan Guess

Calções da produção

Brincos Virzi

SOLO © 2024

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Isabela Valadeiro e Carlos Ferra
Isabela Valadeiro e Carlos Ferra
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