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Entrevista por Miguel Moreira
Fotografia por Frederico Martins
Styling Nelly Gonçalves
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Conheceram-se há 22 anos, em Código md8, de Olga Roriz, onde trabalharam como interpretes. Aí começaram uma relação artística e uma irmandade que descrevem como fruto de admiração mútua, um caminho que construíram lateralmente sem linhas retas, pontando por grandes questionamentos sobre a vida e sobre a arte, como nesta entrevista.
MM - Ligas-te ao corpo, à dança e ao trabalho coreográfico. Como o associas a ti e à tua pessoa?
RR - A dança, o corpo e a coreografia são todas a mesma pessoa dentro de mim. Sou a minha dança com o meu corpo e a minha coreografia, de mim não posso fugir, e gosto de celebrar essa comunhão de pessoa na criação e em palco.
MM -Imaginas o corpo como uma miragem, um sonho?
RR - Imagino o corpo, a minha dança, muitas vezes em sonhos, observo-me a dançar a interpretar ideias, visões, propostas que me foram feitas pelos criadores, memórias que não pude imprimir antes. Levo esse corpo em sonho para o concreto no estúdio onde as possa transformar em carne. De certa forma miragem e sonho completam-se na realidade da criação.
MM -Quando é que a dança para ti é uma paisagem fixa ou mutante?
RR - Estou sempre em movimento, na minha mente, no meu corpo, acredito que a dança vem de dentro para fora, estando em constante mutação dentro de mim. Só depois dessas sucessivas metamorfoses de inquietação me é possível fixar num movimento, num gesto, numa paisagem física, invocar um corpo fixo ou mutante. É um processo para chegar a uma dança que é minha, que só eu a faço existir como a sinto e quero, fixa e mutante.
MM -A dança como uma necessidade visceral, quando a começaste a sentir dessa forma?
RR - Na primeira vez que pisei um palco e senti que ali ia ser a casa de todas as minhas emoções e vivências. Ser visceral é uma característica que me define como intérprete e da qual não abdico. Os criadores que encontrei neste longo caminho são também responsáveis por me sentir uno com as vísceras da minha expressão de um palco, ali deixo tudo de mim até me sentir vazio. Gosto de sentir a revolução na forma como me exprimo, as coisas para as quais não fui feito fizeram-me assim.
MM -Na tua vida quotidiana, de que forma associas a dança a momentos fora de estúdio?
RR - Gosto de olhar o mundo, olhar as pessoas, para mim estão sempre a dançar. Encontro nelas muitas personagens, muitos movimentos, gestos, estados que me inspiram e que tornam o quotidiano um ser fascinante e dançante. Acabo por fazer do estúdio um espaço aberto no mundo.
MM -O que fazes da dança quando sais do estúdio?
RR - Não a consigo parar, não a consigo guardar num espaço fechado ou sagrado, a dança é bastarda, não me pertence, está mim. Talvez permaneça mais sossegada no momento a seguir ao estúdio, mas está sempre lá, inquieta e a desejar ir para o estúdio ou para o palco outra vez.
MM -Qual a relação que pensas existir entre a arte da dança e o desporto?
RR - Sou um apaixonado por desporto, gosto de quase todos, particularmente o futebol. Para mim o desporto e os seus intérpretes é algo belo como a dança - o corpo desgasta-se, entrega se a um amor a um desejo obsessivo de testar os limites de uma existência tao frágil como a nossa, de estar perto de um abismo que nos deixa marcas, cicatrizes, memórias que vão permanecer no corpo, e no intérprete na busca de uma constante superação. Aos meus olhos isso é belo e inspirador.
MM -Com o evoluir do teu caminho na dança, como lidas com a mudança do teu pensamento e dos teus limites?
RR - Penso que lido bem com isso. Encontro em mim agora uma maturidade, compreensão e domínio do meu corpo que me permite celebrar o seu desgaste do tempo. Agradeço o corpo que tive e o que tenho agora, a minha motivação de criar é maior que os limites do meu corpo ou do meu pensamento. É um privilégio sentir que ainda posso, com este corpo, com este momento, fazer o que mais gosto: ser um intérprete da arte.
MM -Que legado gostarias de deixar?
RR - Fazer do meu filho um bom ser humano, capaz de mudar o mundo, e fazê-lo mais tolerante e altruísta onde a liberdade de cada um possa ser a essência de existir em perfeita harmonia humana entre todos.
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Um livro não se julga pela capa, nem uma revista pelo que se vê impresso. Por trás de cada uma das nossas páginas estão parceiros que acreditam tanto no talento nacional quanto nós e se unem à SOLO para lhes dar palco. O caso do Duas Portas, uma morada do Porto que se quer posicionar como uma casa para os que por lá passam. E é: com o conforto levado a cada pormenor, a elegância pousada nas mais simples escolhas e uma intuição feminina que se sente, o hotel que já existia como casa desde o século XIX traz uma nova definição ao que é ‘ser português’ misturando passado, presente e futuro num poiso idílico de tranquilidade.
Como é que descreve o projeto? O que é que torna o Duas Portas tão especial?
O Duas Portas começou como um projeto pequeno familiar, o edifício era de um tio meu e inicialmente quem começou a explorar o espaço como um bed and breakfast fui eu e uma tia. Nunca tínhamos tido qualquer ligação à hotelaria, eu sou arquiteta, ela era enfermeira, e em 2015/2016 este meu tio lança-nos este desafio e nós decidimos experimentar. A achar que isto ia ser uma brincadeira e que provavelmente não iria dar grandes frutos. [risos] Acompanhamos o final da obra, toda a parte de equipar e mobilar e decorar o edifício. Abrimos no verão de 2017 assim muito devagarinho, com algum cuidado e algum receio. A verdade é o Duas Portas acaba por ser um sítio que tem uma receção do público espetacular e que nós não estávamos à espera.
Quando começaram nessa fase de decorar e de pensar no recheio, o que é que já tinham em mente, ou seja, que sensações é que gostavam de passar a quem os visitasse? Qual é era o
objetivo?
Havia mais ou menos três questões que foram - e são - fundamentais. Primeiro, a higiene. Uma das coisas que me chateia nos hotéis é exatamente o sentir que não está limpo, que já muita gente pousou os pés ou as mãos ali. Então uma das questões era, por exemplo, que tudo o que podia ter contacto do cliente teria de ser lavável - isso à partida tira-te uma data de coisas, de almofadas, de cortinados, de colchas. Outra questão que para nós foi fundamental é que queríamos uma coisa muito autêntica portuguesa, mas que fosse uma mistura muito equilibrada de Portugal e de fora de Portugal. Queríamos uma coisa portuguesa, mas com qualidades de Portugal universais, percebes? Uma última questão é a da manutenção - todas as peças que nós tínhamos eram peças que nós queríamos manter ao longo de vários anos e não ter umas peças que daqui a dois anos iam estar super estragadas e íamos mudar. Queríamos evitar ao máximo o descartável. Preferíamos ter menos coisas, com mais qualidade. Uma mistura de peças desenhadas pela arquiteta e produzidas por nós, peças de design de outros designers e arquitetos nacionais e internacionais e bastantes peças vintage compradas em segunda mão.
Sim, eu li que vocês convidam a viver a experiência do ser português, fugindo ao estereótipo e um bocadinho por aí.
Ser português para mim é, por exemplo, produzir mobiliário de alta qualidade. É uma das características. E uma das coisas que nós de facto privilegiamos é que as coisas sejam bem feitas, bem construídas, o mobiliário bem feito e que dure, ou seja, que vai envelhecendo bem. Aceitar a passagem do tempo nos objetos e na própria arquitetura é importantíssimo. Estamos numa era em que as pessoas não querem envelhecer e as coisas envelhecem mal e por isso depois vão para o lixo. Uma das coisas mais interessantes na arquitetura do Duas Portas é que tem uma parte antiga que fo restaurada e depois tem uma parte nova e a dada altura percorres o espaço e não consegues distinguir se estás na parte nova ou na parte antiga. Tudo flui de uma maneira tão natural, sem grande tensão entre o antigo e o novo.
Pensado, desenhado e concebido por três mulheres da mesma família, dizem que esse cuidado associado ao género feminino se sente nos detalhes. O que mais vos surpreendeu nesta vossa partilha com o outro?
Nós achávamos sempre o Duas Portas ia estar focado num publico característico. Venho de uma família de arquitetos e achava que só os arquitetos iam gostar. Houve imensa gente sem relação a arquitetura que chegou e se sentiu bem. E na primeira sensação pode parecer vazio ou austero, mas ao fim de 10 minutos todos dizem que é super confortável. E isso é algo que me agradou: as qualidades que valorizo não são uma coisa da minha bolha. Afinal a minha bolha pode ser apreciada por mais pessoas que não vivem nela – fui, fomos, bem recebidas nesse sentido.
Equipa
Cabelos Rui Rocha
Maquilhagem Sara Marques Oliveira
Assistente de fotografia Pedro Sá, Filipe Teixeira @ Lalaland Studios
Assistente de styling Beatriz Mafra
Retouching José Paulo Reis @ Lalaland Studios
Video Raul Sousa
Coordenação de location Lalaland Studios
Produção Diogo Oliveira @ Lalaland Studios
Texto Patrícia Domingues
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