Alba Baptista

Alba Baptista

Entrevista por Justin Amorim
Fotografia Frederico Martins
Styling Larissa Marinho


Ele é o melhor ouvinte dela, o menos julgador e mais empático, o que tem sempre uma piada pronta para não lhe dar corda ao drama. Ela tem o dom de estar lá para ele nos momentos certos, é uma ótima gestora de crises e carrega uma luz especial. Conheceram-se no filme que ele realizou e ela protagonizou e desde então ocupam papéis principais na vida um do outro, na carreira, nos sonhos e numa experiência de quase morte no Paredes de Coura.


JA – Nós conhecemo-nos em 2015 nas rodagens do filme Leviano que eu realizei e em que a Alba foi uma das protagonistas - e que foi o meu primeiro filme e o teu primeiro filme também, pelo menos a minha primeira longa e a tua primeira longa. E eu queria que tu me contasses algo de que te tu te lembrasses de uma memória do filme… Melhor memória, ou mais estranha, sei lá a primeira coisa que te vem à cabeça quando pensas no Leviano.


AB – Tenho várias memórias. Para já, o Justin foi o primeiro realizador que acreditou o suficiente em mim para ser uma das protagonistas de uma longa. Por isso, para além de ele ser o meu melhor amigo, eu estarei sempre grata por isso. Foi um processo tão bonito porque estávamos os dois ainda na fase da descoberta da nossa própria confiança dentro desta profissão. Estou a falar por ti, mas acho que o Leviano foi assim um passo enorme na tua carreira que nem tu sabias se estavas preparado para tomar ou não. Mas tu foste, com a garra que sempre tiveste e que ainda tens, e eu identifiquei-me com isso e é uma coisa que temos muito em comum, que é a nossa ambição quase cega. E isso foi uma grande ajuda para instintivamente darmo-nos bem, desde o início.

Mas uma memória mais marcante que eu tenha do filme… Eu lembro-me da cena das Miss, eu acho que essa foi a que me marcou mais porque foi a que filmámos quase como uma competição verdadeira. Ou seja, a tensão estava lá, as raparigas todas que tu escolheste pareciam misses para mim. Ninguém saia da personagem, aquilo era um ambiente bizarro porque era algo em que eu jamais participaria neste mundo, mas de repente…


JA – Jamais irias concorrer à Miss Algarve


AB – Sim! (risos) E eu achava que estava preparada para fazer uma cena dessas, mas assim que cheguei no plateau, naquele palco com as miúdas todas e eu com um trikini cor-de-rosa e uma câmara gigante e o Justin com um megafone a dizer “linda, estás linda, linda!” e eu do género “ai meu deus”. Tive um ataque de pânico, porque não faz parte da minha essência e eu claramente não tinha maturidade emocional para pôr a minha personalidade de lado e estar em personagem. Foi um momento de crescimento enorme, que por acaso tenho a dizer que tem uma conexão quase imediata com o filme que eu fiz que vai sair agora, o Mrs. Harris Goes to Paris, porque tem uma cena da passerelle das modelos, a apresentar os vestidos da Dior. E nós filmámos aquilo também como as passerelles eram na altura: vais, mostras o vestido, voltas e tens de trocar e pôr a maquilhagem rápido e estás a andar depois da terceira rapariga. E eu vi-me no teu filme, voltei a estar naquela pele de “oh, meu deus, eu não consigo fazer isto, eu não quero estar aqui”. Mas desta vez com um pouco mais de maturidade aguentei, senti algum pânico, mas estava ali.


JA – Tiveste um ataque de pânico nessa noite?


AB – Sim, não te lembras? Eu sai a correr do palco e a maquilhadora, a Serena Grace, ela acalmou-me.


JA – Eu não reparei bem na altura…



AB – Tu não reparaste porque tu tinhas literalmente 30 pessoas com quem lidar naquele momento


JA – Eu pensei: se não for a Alba é outra qualquer


AB – (RISOS)


JA – Estou a brincar… Sempre que eu vejo aquele filme, eu não vejo muito, mas ainda recentemente eu fui rever aquela tua cena na sessão fotográfica e fico sempre chocado com quão bem tu estás, tão delicada e linda. Acho que foi naquele momento, ainda por cima aquilo foi no início do filme, foi tipo no terceiro dia, acho que foi ali que me apaixonei por ti como amigo.


AB – Uau, não sabia disso, nunca me tinhas dito.


JA– Vamos então passar para a Mrs. Harris. Tu já filmaste, vai estrear agora o Mrs. Harris Goes to Paris, onde tu fazes de uma modelo-musa da Dior nos anos 50. E eu queria perguntar-te, já que estás a fazer esse papel no filme, quem é que são as tuas maiores style references e conta-me também alguma coisa sobre as roupas do filme. Como sabes eu gosto muito de Moda…


AB – Tu és o meu fashion icon, antes de mais. Depois de ti, eu sempre tive uma enorme admiração pela Audrey Hepburn, sempre amei o estilo effortless dela. Não era só uma questão da roupa que ela vestia, ou seja, tu não vias o vestido, vias o quão magnifica ela estava com um vestido lindo, mas era sobre ela. Ela fazia transparecer isso de uma maneira tão não preconceituosa. Acho que ela é o verdadeiro sentido da palavra classe. E eu sempre, sempre, admirei a Audrey Hepburn. Ela era um pouco o oposto do estereotipo de beleza na altura. Ela era muito magra e muito alta, não tinha um peito ou curvas grandes. O género de beleza da altura era a Marilyn Monroe e ela revolucionou essa ideia simplesmente por ser ela mesma e eu acho isso uma inspiração eterna.

Ter ficado com este papel no filme Mrs. Harris foi um pouco uma experiência espiritual porque a personagem é inspirada na Audrey Hepburn e tudo o que a personagem representa é à volta desta ideia: ela faz parte do mundo da Moda, mas não se sente parte dele, não se sente à vontade, e apesar de brilhar aos olhos de todos, ela não se vê assim, ela não gosta do que vê.

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Dress H&M

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JA – Não se vê como os outros a veem. 


AB – Não. Acho que todos nós nos conseguimos identificar com isto, a forma como somos vistos e como nós nos vemos a nós mesmos. Portanto, foi uma experiência purificadora ter feito este papel. Desculpa, estou a perder-me na pergunta… 

Os meus style icons, sem dúvida, a Audrey Hepburn. O vestido Givenchy que criaram para ela, lá está, revolucionou também o mundo da Moda. No filme, nós tivemos a honra de poder vestir vestidos da Dior dos anos 50 que estavam em museus. Eu vesti, eles até fizeram pontos e moldaram às nossas medidas. É absurdo quase! Foi uma daquelas experiências raras em que, assim que tu vestes o vestido, não tens de fazer esforço nenhum para entrar em personagem porque de repente olhas para o espelho e não te reconheces. Vês uma peça de arte que alguém fez há muitos anos com todo o cuidado e tu podes estar a vesti-la. O vestido veste-te a ti, e quase que te traz algo que tu não reconhecias em ti mesma.

JA – Era bem diferente do trikini que eu te tinha dado para usar no Leviano 


(RISOS)

AB – Realmente! 


JA – Diz-me uma cena: onde é que estás agora? 

AB – Eu estou neste momento em Vancouver, estou a trabalhar num filme muito fixe. Não posso partilhar demasiado, mas estou muito contente. 


JA – Vancouver, Canadá, portanto? 

AB – Sim!

JA – OK, do outro lado do mundo… OK, não sei porque é que fiz esta pergunta, estás na outra parte do mundo e somos melhores amigos. 

Olha, vou-te fazer uma pergunta… Lembras-te daquela vez em que nós quase morremos juntos dentro de um carro? E que não foi por causa de um acidente nem bad driving? 

AB – Foi só irresponsabilidade. Algo que eu jamais esquecerei. Começou com… Acho que foste tu que sugeriste nós irmos um dia ao Paredes de Coura, nós amamos Arcade Fire e ‘bora ver a banda juntos e vai ser incrível’… Let’s go! Fomos no teu carro, viajámos, tivemos uma noite inesquecível. Esta foi uma das minhas noites com o Justin que me marcou, foi assim laços de amizade super unidos, para além de termos bebido um pouco demais. E não termos sequer pensado que, quando a noite acabar, onde é que vamos dormir? Não sei! Realmente devíamos ter pensado nisso. Eu acho que chegámos a perguntar a umas quantas pessoas se podíamos dormir em casa dessas pessoas, mas ninguém tinha interesse em ajudar. 


JA – As pessoas tinham tendas, mas acho que era preciso uma pulseira especial para entrar no acampamento e nós não tínhamos. 


AB – Então fomos dormir para o carro, mas o problema é que as janelas estavam fechadas. Paredes de Coura em Agosto, a partir das 6h da manhã bate um sol já de 28 graus, e naturalmente fomos para a cama às 5h/6h da manhã… Eu não sei como é que tu conseguiste dormir porque eu perdi todo o oxigénio. 


JA – Para mim esse é que foi o medo. As janelas estavam fechadas e estavam tipo 50 graus dentro do carro e nós acordámos sem água, completamente desidratados por termos bebido a noite toda, e acordámos secos secos. Eu acho que acordei porque estava a morrer, acho mesmo que foi por isso que eu acordei. 


AB – (risos) Eu estou-me a rir, mas foi assustador. Eu não me estou a explicar bem, mas foi assim perto de traumatizante. Estávamos literalmente a coser. 

JA – Mas isso tornou-nos mais próximos. Porque tivemos uma experiência de quase morte em conjunto. 

AB – Nós simplesmente acordámos, nem tínhamos força para falar, o Justin sentou-se e eu sentei-me e conduzimos. Fomos só a conduzir até à praia, até ao mar, vestimos o fato de banho e fomos até à água, deitamo-nos na areia e adormecemos. E acordei com um escaldão! Foi uma manhã bizarra.


JA – Saltando para 2020, que foi o teu ano maior, até agora, em que saiu o Warrior Nun. Eu queria perguntar-te sobre o Warrior Nun, agora que vem aí uma segunda temporada em alguma altura deste ano - acho que nem tu sabes, porque eu também não sei, e se tu soubesses já eu sabia. Queria que me dissesses: tu trabalhaste comigo em Portugal, eu trabalho em Portugal essencialmente, e essa foi a tua primeira experiência 100% internacional, grande Netflix, whatever… Como é que isso foi assim diferente para ti? Já deves estar tão farta desta pergunta, mas como é que foi, o que é que foi diferente tendo em conta o que já tinhas feito aqui. 

AB – Isto foi a produção com o maior cachet com a qual eu trabalhei, ou seja, em termos de produção havia mais conforto monetário para todos os departamentos. Por isso, logo aí, isso muda a experiência. Com isto não quero dizer que o nível de conforto é maior, é certo que há mais conforto monetário, mas é porque os americanos trabalham já com o estigma de que os atores têm de estar confortáveis para trabalhar. Em Portugal não é tanto assim. Estamos todos unidos e cada um se safa como pode. 

JA – Eles separam um bocadinho mais, não é? Os atores do resto da equipa. Tentam pôr-vos numa bolha? 


AB – Sim, separam. É saudável até certo ponto, não podemos estar em extremos. Acho que tem de se ter em conta o esforço emocional do ator, tal como se tem de ter em conta que o ator não está acima de qualquer outra pessoa num filme. Portanto, há um meio termo onde acho que se pode trabalhar bem. Mas o que eu gostei mais de descobrir é que não há uma grande necessidade para ter relações pessoais no set para conquistar um bom produto final. Não há essa necessidade e eu sinto que em Portugal há um pouco. É natural porque também é um meio mais pequeno, vais conhecendo as pessoas com quem trabalhas, vais rodando os filmes e vais encontrando pessoas… é um ambiente mais amigável que não é mau, mas eu pessoalmente, e sendo tímida por natureza já conheço bem a minha personalidade o suficiente para saber que lido melhor com o pragmático - o ‘diz-me o que é que eu tenho de fazer e eu faço que assim depois eu vou para a minha vida pessoal que é só minha’. A vida profissional é nossa, mas eu não faço questão de unir as duas. Só se por acaso houver uma ligação fixe, tal como houve contigo. 

Mas por norma eu aprecio mais essa filosofia de trabalho, que foi a que eu descobri na Warrior Nun, e nos outros projetos que eu fiz até agora fora de Portugal. Tem sido assim. 


JA – Uma coisa um bocadinho mais isolada, não é? Tipo um summer camp em que estão ali para aquilo e depois acabou e cada um vai à sua vida. Olha eu quero muito ver a season 2, mas isso tu já sabes. 

Agora eu queria perguntar-te: no passado, inclusive no Leviano, na verdade em todos os filmes que eu já vi teus, tens feito muito os papeis de nova - porque és nova -, mas também ingénua, Lolita quase, acho que este género tem sido um bocado os papéis que tens feito e gostava de saber se isso é algo que tu gostavas de mudar. 

AB – Acho que nenhum ator gosta de ser rotulado, acho que nenhum ator aprecia isso. Podes usar isso como a tua vantagem se preferes estar nessa tua zona de conforto, onde sabes que fazes isto bem e por isso continuas a fazê-lo, mas eu diria que - assumo que - a maioria dos atores não deseja isso. E eu não desejo isso com certeza. Em Portugal sim, houve uma fase em que isso acontecia bastante, principalmente e nomeadamente em televisão. Havia muito a tendência de escolherem personagens para mim onde havia ingenuidade, mas com um misto já de consciência sexual e curiosidade e a explorar muito esse lado, que já envelhece e honestamente torna-se barato e previsível. Infelizmente quando estás a começar principalmente vês sempre qualidade nas personagens, vês sempre potencial para dar algo de novo, mas quando te apercebes vês ali o padrão infeliz, principalmente para jovens atrizes. OK, é o que é, mas o problema é que parece-me que são histórias maioritariamente escritas por homens, realizadas por homens, e não há tanta consciência de que, se calhar, isto não é assim tão realista quanto isso. Se calhar estamos simplesmente a alimentar uma visão masculina que não retrata a realidade. Isto para dizer que, curiosamente, assim que comecei a trabalhar fora de Portugal, nunca fui escolhida para uma personagem desse género. A Warrior Nun não tem a componente sexual assim muito marcada, não é esse tipo de série, é um género sci-fi, comic book, e não há muito espaço para explorar isso. O que eu aprecio, porque deu azo para mostrar outras qualidades. Na Warrior Nun há mais ingenuidade em relação à vida, em relação às emoções, em relação à experiência… 

Quanto mais trabalho mais me apercebo que quero explorar outras personagens. Não estou a dizer que não haja um dia em que eu leia um guião e não encontre uma personagem que seja desse género, mas que haja potencial real, que haja uma mensagem que vale a pena partilhar. 

JA – Vou escrever uma para ti. 


AB – Força. 

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Cardigan Christian Dior

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Necklace Tejo Azur Lisbon

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Dress H&M

Earrings and ring Be Collection Luísa Rosas

JA – Queria perguntar-te sobre os sonhos. Isto é uma cena muito de atores esta ideia de usar os sonhos e de interpretar os sonhos, é um nível de acting de topo, quando consegues trazer os teus sonhos para dentro da realidade, e mostrar e manipular e whatever… E eu queria perguntar se isso é uma parte do teu trabalho. Se tu costumas lembrar-te dos teus sonhos e se tu alguma vez usas isso para o teu trabalho. 

AB – Acho que não conscientemente. Olhando para trás, antes sequer de ter começado a trabalhar, eu acho que já estava a manifestar um futuro nesta carreira - longínquo. E foi provavelmente a maior manifestação que eu alguma vez tive, porque não era consciente dela. Eu simplesmente tinha a certeza de que ia acontecer, mas não sabia o quê, não materializava, não pensava “vou ganhar isto”. Era um “vou conseguir o que eu quero”. E não era algo consciente, lá está, não eram palavras, era simplesmente uma certeza interior. E à medida que vais crescendo aprendes mais sobre mágoa e incertezas e inseguranças e vai poluindo um pouco essa pureza com que nós todos nascemos. Alguns até carregam isso durante a vida toda, mas ficas cada vez menos e menos… Já não tens tanta garra nessa linha que tu criaste sem ter noção. Não sei se isto está a fazer sentido. 


JA – Eu percebi. 

AB – Começa a ser mais material “eu quero fazer personagens assim”. É importante, claro que sim. Estes sonhos são importantes, tu também os tens, é importante sonhar. É importante ter garra e ter ambição, mas é importante também lembrar-me que eu não me quero categorizar por esses sonhos, porque talvez um dia eu chegue lá e consiga e alcance tudo o que eu acho que queria e de repente olho à minha volta e não estou feliz… O meu sonho é encontrar felicidade em tudo o que eu faça e poder chegar a um ponto da minha vida em que eu sei que alcancei o que eu queria e agora poder ter espaço para olhar à minha volta e não ter só ambição cega por mim, mas por outras pessoas. Porque a fase dos 20 é uma fase super egoísta, só pensamos em nós e nos nossos sonhos. É normal que assim o seja - vamos, força, vai e experimenta e cai e volta a levantar-te e faz tudo! Mas não sei, long story short, não sei se posso dizer que o meu sonho é ser uma atriz mundialmente conhecida, ou ganhar um Óscar… Eu tenho ambições, e tenho sonhos, mas acho que certas coisas são nossas. 


JA – Uma coisa que nós temos em comum é o nosso signo ser Caranguejo e a outra é o amor que nós temos pela Lana Del Rey. E eu queria perguntar-te qual é a tua música favorita dela. E só podes escolher uma! 

AB – Nãaaaaao! 

JA – Eu acho que, quem ler esta entrevista, precisa de saber isso. 


AB – Porque a Lana também é caranguejo, portanto estamos conectados. Opa, honestamente, toda a mágoa da Lana, eu identifico-me com ela. Mas a minha obsessão neste momento é a Blue Bannisters e acho que tu sabias essa resposta. 


JA – Por acaso não sabia. Juro que não sabia. Agora que disseste eu lembrei-me porque nós falámos sobre isto há pouco tempo, mas não me lembrava. 

AB – É simplesmente trágica. Eu gosto de sentir a emoção trágica e melodramática.  

É nostálgica, é bela. 

JA – Isto é super corny, mas acho que faz sentido. Queria perguntar-te: quando é que tu estás mais feliz? 

AB – Quando nos estão a amar. Também é uma resposta corny, mas amor vem em várias formas, não é só estares com o teu amado ou amada, é estares sentada num parque e estares a amar a árvore e o movimento do vento que se mostra nas folhas. É ver um filme, talvez com a tua família. E rires-te de coisas parvas com os teus amigos. E jantar. É amar na forma do presente. Eu acho que é aqui que eu estou mais feliz. É com as coisas mais pequenas. É com estes pequenos momentos de consciência de que estou feliz. 


JA – Isso é interessante. Há uma diferença, é mesmo diferente amar no presente e amar no futuro ou no passado. É aquele momento em que tu estás. 

AB – Sem dúvida. 

JA – Tenho mais uma. Voltamos ao Mrs Harris Goes to Paris, já que vai estrear já em Julho no mundo inteiro. Se tu fosses uma modelo da Dior em Paris nos anos 50, com quem é que tu querias party with? Com quem é que tu querias passar uma noite, ou um dia, bem passado. 


AB – Ok. Ok. Uau. 

Obviamente juntar-me-ia com a Audrey. Se calhar fazia girls night out, fazia Audrey Hepburn, Brigitte Bardot, Grace Kelly, Elizabeth Taylor porque era meio diva portanto se calhar ela era a mazona do grupo. A Audrey traria filosofia e ficaríamos a filosofar. 


JA – Eu acho que deviam fazer esse filme. Eu quero realizar este filme! Uma noite em Paris com elas as cinco, contigo incluída, a modelo que elas encontraram. 

AB – Elas acolheram-me. Cool. 


JA – I’d watch it. 

AB – Nice. 

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Moda

Alba Baptista
Maria Clara

Dos seus primeiros passos, um tão grande quanto a perna – mostrar que a criatividade é possível através da sustentabilidade. Aliada à identidade, à tradição, ao sonho, à formação e a uma estética que é ao mesmo tempo tão sintonizada com a atualidade que vestiu uma das estrelas mais hot do momento para a SOLO.

No ano passado, venceste o prémio ModaLisboa x Tintex do Concurso Sangue Novo. O que trouxeste à passerelle que sentes que levou a esta premiação?


Acho que um dos objetivos do Sangue Novo é incentivar-nos a criar e a apresentar algo de novo, algo nosso, com identidade e originalidade. Penso que ter arranjado uma maneira de me expressar através de uma técnica muito antiga e tradicional, mas também muito minha (uma técnica usada nos processos iniciais do Bordado Madeira, ilha onde nasci), poderá ter sido um dos fatores que contribuiu para essa premiação. 


Entre muitas outras coisas, representas uma nova forma de construção e exploração das malhas. O que queres falar através das tuas coleções? Como narras a tua marca? O que te caracteriza e o que te atraiu para esta forma de expressão?


Tento sempre pôr o que sou naquilo que faço. Dou muito valor às tradições e às minhas origens e penso que há uma influência muito natural de tudo isso em mim. Valorizo muito o saber fazer, gosto de ser a minha própria artesã e muitas das minhas peças nascem de várias experiências e tentativas. Espero também conseguir demonstrar que podemos ser criativos, leais à nossa identidade, conciliando a arte e a moda com o fator importante da sustentabilidade, uma urgência no mundo atual, sem perder a nossa essência ou até mesmo encontrá-la nesta nova realidade.


Alba Batista vestiu uma peça da tua coleção “I had a flashback of something that never existed” – o cenário de um universo idílico inspirado na tua terra-natal, a Madeira. Como descreverias esse mundo?


"I had a flashback of something that never existed" foi um desejo de um mundo que não existe, sem problemas e em harmonia com a indústria da Moda. Um mundo sem toneladas de roupa despejadas diariamente em aterros; contaminação de águas, do solo e do ar; péssimas condições de trabalho, etc. Foi uma fuga a esta realidade, onde me inspirei em lendas populares e mitos da minha terra para ilustrar os estampados em anil. 

Estiveste em Nápoles e Londres, a estudar. O que trazes contigo de cada um desses universos? Onde estás agora – e onde gostavas de estar no futuro?


Foram duas etapas muito importantes da minha vida, ambas influenciaram a pessoa que sou hoje. Londres, em especial, teve um papel fundamental em tudo o que faço hoje a nível criativo, foi onde comecei a trabalhar com malhas e a desenvolver o mundo têxtil nos meus projetos. Neste momento estou na Ilha da Madeira, onde desenvolvi as últimas três coleções que apresentei na ModaLisboa. Ainda tenho muita vontade de aprender e experimentar, portanto espero que no meu futuro conste uma pós-graduação ou mestrado em design têxtil direcionado à moda.


Lugar

Alba Baptista
Marqí

O amor é um lugar estranho e o Marqí também. Foi o que saiu da boca de um dos seus proprietários no dia em que recebeu as chaves e olhou para aquela mansão dos anos 80 que repousa por entre a densidade de Sintra (sempre em névoa, meio empoeirada, imprevisível). Hoje o hotel renovado por dois amigos de Copenhaga traz uma vibe retro cool, com um exterior majestoso e um interior que se faz valer pelos detalhes, onde encontrará peças vintage trazidas de fora e outras preciosidades* repescadas numa carrinha de norte a sul de Portugal. O cenário perfeito para todos os filmes de dentro da nossa cabeça darem lugar ao editorial que colocou uma atriz portuguesa a sentir-se estranhamente em casa.

Como acabaram com esta ‘missão’ e de que forma as vossas profissões anteriores moldaram a forma como esta casa foi readaptada? 

Aceitei a tarefa por minha conta e risc. Com o coração cheio, sem olhar para trás; também pouco para os lados. E depois convenci os outros de que era uma boa ideia. Não foi preciso ser muito convincente. Felizmente. Começou com umas férias, depois apaixonar por uma ideia, depois apaixonar por uma casa muito especial.  

Costumava gerir uma pequena marca de moda e - mais significativo para aqui - trabalhava como fotógrafo. Mikas, como artista e arquiteto, fez a maior parte do trabalho de renovação e interior para dois dos nossos outros parceiros, Simon & Simon, que constroem e gerem restaurantes e clubes em Copenhaga. Estas experiências sempre estiveram presentes na nossa mente, dando forma a pequenos detalhes e às ideias maiores.

Descrevem a casa como um ‘hotel muito estranho’ – o que querem dizer com isso?


Foi uma coisa espontânea que disse a mim próprio, olhando para a casa no dia em que recebi as chaves. Foi apenas um momento maravilhoso olhar para esta casa estranha, no meio de uma pandemia, com um saco e uma prancha de surf. A cabeça cheia de ideias sem nenhum próximo passo tangível ou plano para lá chegar, repetindo apenas para mim mesmo: 'Ok, um hotel estranho a surgir'. E aconteceu, da melhor das formas. Também para mim, estranho significa algo inexplicável ou desconhecido e excitante e dá-me associações a Dylan & Bowie (O livro 'Strange Fascination' e a frase sobre parar num hotel estranho em 'Simple Twist of Fate'). Para outros, significará provavelmente algo diferente. É mais ou menos essa a questão.


Alba Baptista

Ouvimos dizer que o mobiliário faz parte da tua coleção pessoal e que cada quarto foi detalhadamente preenchido com uma peça vintage única. Podes falar-nos sobre uma ou duas dessas peças que sejam mesmo especiais?


A mais especial terá o sofá central no nosso lobby, que foi deixado para trás e pertencia à zona de festa no anadar abaixo. É da era perfeita e foi como que ‘re-criado’ do nosso moodboard inspiracional. Foi revestido em tecido verde. Para além disso, levámos o nosso tempo a conduzir numa carrinha num Portugal em quarentena, indo comprando os artigos de coleção a maioria de vendedores particulares.


Sintra é muitas vezes descrita com uma atmosfera mágica. O que mais gostam desta localização da Marqí? Que histórias fascinantes existem sobre a mansão de que já tenham ouvido falar?


Adoramos as colinas e vales verdejantes de Sintra e as suas estradas cheias de curvas com pequenas mansões e castelos escondidos e a magia que envolve aquela montanha. Estamos perto dela, junto à Praia Grande, e faz-me lembrar a Califórnia, conduzindo na Mulholland Drive e chegando a Malibu. E a natureza é deslumbrante aqui e podemos observá-la da maioria dos sítios do hotel que têm vista para o vale e oceano e para a costa que se estende até à Ericeira. Pode-se simplesmente sentar-se em qualquer parte e ficar a olhar.


Sim, ouvimos algumas histórias. Contamos-te tudo no bar.

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Equipa

Cabelos Cláudio Pacheco with L’Oréal professionnel products

Maquilhagem Tina Hoffmann

Assistentes de fotografia Pedro Sá, Filipe Teixeira @ Lalaland Studios

Assistentes de styling Martin Villa-Nova and Mariana Barroso

Retouching José Paulo Reis @ Lalaland Studios

Video Raul Sousa

Coordenação de location Snowberry

Produção Lalaland Studios

Lugar MARQUÍ

Texto Patrícia Domingues

SOLO © 2024

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